Se lançarmos um olhar para o futuro no que se refere à presença da mulher no mercado de trabalho, as perspectivas seguem otimistas. Ainda que haja uma disparidade em relação aos homens quanto a salários e taxa de desocupação, é fato que paulatinamente elas vêm conquistando mais espaço e reconhecimento.
E se a previsão da psicóloga Cyndia Laura Bressan, coordenadora do MBA em Gestão de Pessoas por Competências, Indicadores e Resultados, do Instituto de Pós-Graduação e Graduação (IPOG), se confirmar, as mulheres ocuparão cada vez mais cargos de chefia, inclusive em cidades menores e não somente em grandes centros, como já vem ocorrendo.
Além disso, o mais importante é que essa ocupação forçará uma mudança de mercado. Segundo ela, os homens deverão desenvolver muito mais características de atenção e relacionamento, atribuídas historicamente ao gênero feminino.
"Hoje, o diferencial de uma empresa pode ser a forma com que ela atende e se relaciona e não necessariamente o produto e serviço. Acredito que quando os homens perceberem que elas estão ocupando cargos porque desenvolvem melhor essa competência, eles também vão se aperfeiçoar, pois em termos de capacidade mental, não existe diferença", afirma.
Ela ainda ressalta que um comportamento familiar atual, vai favorecer essa mudança. "Hoje, os homens estão querendo assumir papéis de pais ativos. Isso vai ser bom porque vai desonerar um pouco as obrigações femininas e, ao mesmo tempo, dará a eles a dimensão desse trabalho, na medida em que vão ter que compatibilizar também", salienta.
No Segundo Seminário de Oficiais e Peritos em Assuntos Populacionais do grupo Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), realizado no mês passado, as diferenças de gênero no mercado de trabalho foi um dos temas debatidos.
A secretária de Políticas do Trabalho e Autonomia Econômica das Mulheres, Tatau Godinho, afirmou que "as brasileiras aumentaram sua presença, formalização e rendimento no mercado de trabalho".
Segundo ela, o aumento da participação feminina foi de 4,5% entre 2000 e 2010 e que o desafio agora é oferecer garantias sociais para que as mulheres possam conciliar o trabalho profissional e o cuidado com a família.
MAIOR REMUNERAÇÃO
Um levantamento feito pelo site de empregos Catho traz um ranking das profissões em que as mulheres se destacam e chegam a ganhar até 123% a mais que os homens. Esses dados têm como base a Pesquisa Salarial e de Benefícios da Catho, realizada com mais de 480 mil profissionais em mais de 2 mil cidades brasileiras.
Os cargos mais bem remunerados para elas surgem em áreas específicas, como a Medicina (Dermatologia, Pediatra, Ginecologia); Administração (Analista de Relações Institucionais e Especialista Financeiro) e Engenharia (de Projetos, Orçamentista e de Planejamento e Controle).
Cyndia Bressan, que também atua na área de psicologia organizacional e coach de executivos, com consultoria e docência, não teve acesso detalhado aos dados da pesquisa, mas avalia que essas áreas refletem uma conquista ao longo dos anos, já que o trabalho das mulheres sempre foi voltado à área de cuidados, atendimento ao público e cargo de nível médio dentro das organizações.
Ao considerar a Ginecologia e Pediatria, por exemplo, ela comenta que existe um conceito cultural a ser considerado. Durante muito tempo, a maioria dos homens não permitia que suas esposas fossem examinadas por outros homens e as próprias mulheres, em geral, se sentiam mais à vontade com uma médica. "Se olharmos a área de Pediatria, temos a questão do cuidado com o bebê. Historicamente, a mulher foi delegada à condição de cuidadora e, portanto, uma alusão social que podemos fazer é que se ela tem mais cuidado e jeito com o bebê, uma pediatra será melhor. Não que isso seja uma verdade", ressalta.
O setor financeiro já é visto com mais surpresa, pois sempre foi dominado pelos homens. Porém, é possível fazer uma correlação já que se trata de um trabalho que exige extrema atenção e cuidado. "Um zero a mais pode fazer uma diferença gritante", frisa.
No que diz respeito às áreas de Engenharia, Cyndia observa o fluxo do mercado. "Pode ser uma questão de demanda. As empresas já não têm muitos homens para contratar e o volume de vagas é significativo", afirma. "Apesar de atuarem em cargos tradicionalmente masculinos, elas fogem do esteriótipo masculinizado, usando maquiagens, unhas pintadas e cabelos compridos", conclui a consultora.
Fonte: Folha de Londrina, 09 de março de 2015.