Há dois anos, a maringaense Thais Caroline Zuccoli, de 26 anos, mudou-se para Curitiba para fazer um curso de Pilotagem no Centro Tecnológico da Universidade Positivo. Ela é uma das 18 alunas que integram o universo de 180 estudantes das seis turmas do curso para formação de piloto comercial. O número de mulheres brasileiras que ingressam nessa carreira ainda é pequeno, mas vem aumentando gradativamente. Dados da Agência Nacional de Avião Civil (Anac) mostram que no ano de 2000 foram emitidas apenas 13 licenças para mulheres trabalharem como Piloto Comercial de Avião, a chamada categoria PCM. Mas em 2010, o número passou para 24. Em 2014, 56 mulheres conseguiram a autorização. 

A categoria PCM permite pilotar aviões comercialmente, por exemplo, para empresas particulares e companhias de táxi aéreo. Após conseguir essa licença, o profissional pode se preparar para trabalhar como Piloto de Linhas Aéreas (PLA), integrando a cabine de grandes empresas que transportam passageiros dentro do País ou fora dele. 

Ainda segundo a Anac, atualmente, no Brasil, há 5.819 licenças em atividades para Piloto Comercial de Avião, sendo que apenas 99 pertencem, às mulheres. As licenças para Piloto de Linhas Aéreas estão concedidas para 5.092 homens e 27 mulheres. 

A AZUL tem 45 mulheres pilotos na ativa, sendo que 11 estão comandando aeronaves e 34 atuam como copilotos. A primeira piloto foi contratada pela empresa em 2008, quando a companhia foi fundada. Mas na Trip, que fez fusão com a Azul em 2012, a primeira piloto foi admitida em 2002. A TAM conta com 26 mulheres pilotos na ativa (seis comandantes e 20 copilotos), sendo que a pioneira começou a trabalhar na companhia em 1998. A GOL informou que o número de pilotos mulheres contratadas pela companhia aumentou 21% em 2014. Dos 1.656 pilotos da GOL, 32 são do sexo feminino - sete ocupam o cargo de comandante e 25 são copilotos. A primeira comandante foi nomeada em 2007. 

Na opinião do coordenador do curso de Pilotagem do Centro Tecnológico Positivo, Fábio Augusto Jacob, a tendência é que as mulheres assumam cada vez mais o comando das aeronaves, assim como fizeram em outras áreas. "Há 30 anos, era impensável ver uma mulher dentro da cabine de pilotagem e a tripulação era composta somente por comissárias de bordo, com muito charme e glamour. Atualmente, os papeis se inverteram e, tanto homens como mulheres, estão provando que não existem diferenças que impeçam a realização das tarefas", comenta Jacob. 

Segundo o professor, vários fatores estão permitindo a presença maior das mulheres na aviação, mas ele destaca a evolução das tecnologias empregadas nas cabines. Jacob explicou que os equipamentos de antigamente, que eram muito pesados e rústicos, podiam até ser considerados um impedimento. "Mas hoje em dia, com cockpits computadorizados, o foco é na técnica e no conhecimento do profissional", revelou. 

EFICIÊNCIA E ATENÇÃO
O comandante Marcelo Ceriotti, diretor da Secretaria Jurídica do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), disse que é perceptível a presença cada vez maior das mulheres pilotando aviões. Ele acredita que elas demoraram um pouco mais para ingressar nessa profissão porque até há algumas décadas, os pilotos das companhias aéreas brasileiras vinham de uma carreira militar. O comandante comentou que gosta de trabalhar com copilotos mulheres, lembrando que elas são eficientes, atenciosas e têm boa capacidade de administrar conflitos. "As mulheres são bem-vindas na profissão", afirmou. Na opinião dele, a maior dificuldade que as mulheres encontram nessa profissão é na hora da maternidade, porque a atividade exige que a profissional cumpra escalas de viagem e fique fora de casa por um tempo. 

Com 45 anos de aviação, o comandante Bolivar Kotez, da Associação Brasileira de Pilotos da Aviação Civil (Abrapac), acompanhou o ingresso gradual das mulheres na cabine dos aviões. Ele conta que no Brasil, na década de 1970, isso era praticamente impossível de acontecer nas grandes empresas. Nas duas décadas seguintes, o movimento começou de maneira tímida. Em 1990 começaram a aparecer as primeiras comandantes. "O preconceito vem caindo. As mulheres estão trabalhando em todas as áreas", lembrou. O porta-voz da Abrapac reconheceu que, por serem novas na carreira, as mulheres apresentam um nível grande de dedicação. Kotez observou ainda que se por aqui ainda é baixo o número de mulheres pilotando comercialmente aviões, nos Estados Unidos e na Europa essa é uma situação bastante comum. Na opinião dele, a profissão de piloto é promissora tanto para homens e mulheres porque o mercado da aviação deve continuar crescendo nos próximos anos.

Fonte: Folha de Londrina, 31 de agosto de 2015.