"Keep calm, work hard and stop mimimi". Utilizando-se de uma expressão em inglês que se popularizou na internet e, em especial, entre os jovens, o consultor e escritor Sidnei Oliveira dá o tom sobre um tema que tem se dedicado há muitos anos: as gerações e o mercado de trabalho. 
Ele entende que, para falar com os jovens, é preciso utilizar a mesma linguagem. 
Mais do que isso, sabe que é uma geração que precisa ser desafiada. Oliveira é autor de vários livros sobre liderança e dos best-sellers da série Geração Y. Durante anos, ele estuda o comportamento e atuação de gerações no que diz respeito à carreira profissional. 
E um dos primeiros lugares a recebê-lo para falar sobre o assunto, foi Londrina, em 2008. Sete anos depois, ele retornou à cidade, na semana passada, para falar a um público diversificado sobre o seu mais recente livro "Mentoria – elevando a maturidade e desempenho dos jovens" (Integrare Editora - 2015). 
Oliveira é de São Paulo e desenvolve programas de formação de jovens potenciais e de formação de mentores, atendendo a grandes empresas como Vale e Petrobras. Ele comenta que a definição de mentoria no Brasil ainda é distorcida e explica que um mentor não trabalha competências, instruções e tampouco ensina. 
"O mentor trabalha para garantir que, de uma falha, venha o aprendizado e o amadurecimento, pois aprendemos com as consequências de nossas escolhas", diz. Para ele, exercitar a mentoria é um aspecto importante para o desenvolvimento humano, pois estímulos e reflexões direcionadas auxiliam os jovens a identificar e ampliar as habilidades e talentos pessoais. 
Em outras palavras, um mentor fará de sua vivência, um exemplo ao jovem. "A maior dificuldade nas empresas é justamente lidar com mundos tão diferentes. É mais fácil rotular os novos jovens do que ajudá-los. Os mais antigos no trabalho não devem ter medo de perder seus postos no emprego, mas coragem de orientar os jovens e levá-los um passo a frente", ressalta. 
Isabel Camargo, psicóloga e especialista em Gestão e Prática de Recursos Humanos, acredita que a mentoria é uma tendência nas organizações que buscam se destacar com boas práticas em gestão de pessoas. Porém, ela reconhece que ainda é pouco difundida no ambiente corporativo. 
"O papel do mentor é essencial para apoiar o desenvolvimento de carreira. Trata-se de um profissional mais experiente que atua como tutor no desenvolvimento de um colaborador mais júnior ou em outra fase de carreira", afirma. 
De acordo com Isabel, na empresa em que atua, os novos colaboradores são acompanhados nos primeiros três meses por um colaborador com mais tempo de casa. "A troca de experiências entre profissionais mais experientes e juniores contribui significativamente para nortear as carreiras, fortalecendo o ganha-ganha e a realização profissional", conclui. 

DESPERTAR
Ao analisar o cenário atual, Oliveira afirma que as novas gerações (Y e Z) têm compartilhado as consequências de suas escolhas, principalmente no que se refere à carreira profissional. 
"Temos uma geração de jovens brilhantes, praticamente formados em relação a qualquer outra geração, pois estudou mais, tem mais informação e mais intimidade com tecnologia, só que foi menos exposta e menos testada", completa. 
Nessa hora, Oliveira justifica a sua frase inicial. Para ele, o jovem deve ser despertado para uma realidade que ele ainda não conhece, mas que está batendo à porta. 
"O jovem hoje, com idade entre 18 e 30 anos, nunca viveu uma crise com algum tipo de protagonismo. Trata-se de uma geração que 'pegou' o Brasil em uma transição e uma certa estabilidade econômica. Então, esse momento para eles é peculiar", ressalta. 
Além disso, o mentor aponta dois pontos a serem analisados. O primeiro deles é que com o aumento da expectativa de vida, os veteranos, ou seja, aqueles que estão há muitos anos no emprego são também os "jovens" de hoje, com expectativa de viver pelo menos mais 30, 40 anos. 
"Ele se sente e se enxerga jovem, com muita energia e motivação. Muitos desejam ainda uma segunda carreira e disputam o mercado de trabalho com o jovem que está entrando. Isso cria um cenário novo porque o veterano tem algo que o jovem não tem, que é a experiência", avalia. 
O segundo ponto é a fragilidade das novas gerações em relação aos desafios. Para Oliveira, isso é porque ela não foi exposta na mesma proporção que as gerações anteriores. 
"Eu diria que a geração de hoje foi mais protegida, criada em um cenário mais estável e privilegiado, o que não a obrigou a lutar tanto pelo seu espaço. Com tudo isso, os jovens hoje têm menos autoconfiança", avalia.

Fonte: Folha de Londrina, 09 de novembro de 2015.