No ano passado, cerca de 87% das negociações dos sindicatos resultaram em ganhos reais para os trabalhadores. A informação faz parte de um levantamento realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que analisou 671 negociações em todo o País. A pesquisa mostrou que 7% delas terminaram em reajuste igual à inflação e 6%, abaixo da inflação. O ano de 2012, segundo o próprio Dieese, foi melhor para os trabalhadores, quando 95% dos acordos resultaram em ganhos reais.
Em 2013, o ganho real médio, de 1,25%, também foi menor que o de 2012, que havia sido de 1,98%. Das 671 negociações estudadas, 59, ou 8,8%, eram do Paraná, mas não foram divulgados resultados por Estado.
O presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), Gilmar Lourenço, diz que o aumento real diminuiu no ano passado devido ao desaquecimento da economia brasileira, que também gerou menos empregos. "Com menos postos de trabalho, o poder de barganha dos trabalhadores é reduzido", analisa.
O estudo também mostra que, no ano passado, as negociações coletivas do segundo semestre apresentaram desempenho melhor que as do primeiro. De julho a dezembro, 94% dos acordos tiveram reajuste acima da inflação. O porcentual médio de ganho real no período foi de 1,52%.
O comércio foi o setor no qual houve mais ganhos reais. Dos 11 acordos analisados pelo Dieese, 98% resultaram em reajustes acima da inflação. O consultor econômico da Associação Comercial do Paraná (ACP), Cláudio Shimoyama, diz que o comércio tem utilizado o aumento real como estratégia para segurar o funcionário, já que há dificuldade de encontrar mão de obra para o setor. Ele lembra que, no comércio, o empregado precisa trabalhar nos fins de semana e, por este motivo, se tiver oportunidade, vai para a indústria. O aumento real visa desincentivar essa migração.
Segundo o presidente do Ipardes, os setores com mais dificuldade de encontrar mão de obra são supermercados, medicamentos, material de construção civil, vestuário e calçados. Lourenço ressalta que o comércio foi o setor menos afetado pela desaceleração da economia.
Na indústria, os aumentos acima da inflação foram observados em 89% das 343 negociações pesquisadas e, nos serviços, em 78% de 217 acordos. De acordo com ele, a indústria teve queda na produtividade e, com isso, as empresas ficaram mais resistentes a conceder aumentos reais. Nos três setores, a maior parte do ganho real ficou abaixo de 2%.
Na indústria, os segmentos com melhores resultados foram alimentação, com aumento real em 96,3% das negociações, construção e mobiliário, com 98,7%, e papel e papelão, com 100%. No setor de serviços, os acordos com os maiores aumentos reais foram em bancos e seguros privados (100%), transportes (87,9%), e turismo (89,8%).
Fonte: Folha de Londrina, 03 de abril de 2014.