Um em cada dez brasileiros sofre de doenças renais. O dado é da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), que destaca que pessoas com pressão alta, diabetes e obesidade possuem chances maiores de falência renal. O envelhecimento também é considerado um fator de risco importante para o aparecimento da doença renal crônica (DRC). A situação fica ainda mais alarmante pelo fato de grande parte dos idosos apresentarem as doenças de base que predispõem ao deficit renal.
O médico nefrologista e presidente da Fundação Pró-Renal, Miguel Riella, de Curitiba, lembra que o uso prolongado de medicamentos anti-inflamatórios não hormonais e de contrastes iodados para exames de imagem também favorecem o desenvolvimento da doença. "Estes itens são tóxicos e se tornam mais prejudiciais quando a função dos rins é reduzida. O idoso precisa estar consciente e alerta de que não pode tomar medicamento sem orientação médica", aponta Riella.
Segundo a SBN, dos cerca de 100 mil brasileiros que fazem diálise, 30% têm mais do que 65 anos. Estudos indicam que após os 35 anos o indivíduo perde 1% da função renal ao ano, isso significa que uma pessoa com 85 anos tenha apenas cerca de 50% dos rins funcionando. Conforme a Organização Panamericana de Saúde (OPA) e a Organização Mundial de Saúde (OMS), nos últimos 50 anos a esperança de vida na América Latina e Caribe aumentou em 20 anos, o que faz com que o número de doentes renais também apresente um salto. "As pessoas aumentaram sua expectativa de vida, inclusive aquelas com uma ou várias doenças crônicas e fatores de risco. Isso faz com que as repercussões em órgãos como o rim cresçam entre as pessoas da terceira idade, evidenciando a necessidade de prestar mais atenção ao tema", explica Enrique Vega, assessor regional para Envelhecimento e Saúde da OPAS/OMS.
Nos Estados Unidos, por exemplo, segundo a National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES), os casos novos de doença renal crônica duplicaram entre os maiores de 65 anos entre 2000 e 2008. A prevalência do problema em pessoas de mais de 60 anos passou de 18,8% em 2003 para 24,5% em 2006, porém se manteve abaixo de 0,5% na faixa etária de 20 a 39 anos. Não há dados consistentes sobre esta temática no Brasil.
A doença renal crônica é caracterizada pela perda progressiva e irreversível das funções renais e detectá-la é um desafio. Silenciosa, muitas vezes é percebida apenas quando o paciente já apresenta perda de 75% da função renal. A melhor forma de identificar a DRC é fazer periodicamente exames de urina e de sangue com dosagem de creatinina. Quando identificada na fase inicial, a doença pode ser tratada. Os sinais de alerta de que algo pode estar errado com os rins são: palidez, necessidade de urinar várias vezes durante a noite e pressão alta. "Em quadros mais avançados a pessoa apresenta sinais semelhantes ao de uma intoxicação", salienta Miguel Riella, da Pró-Renal.
A partir do momento em que o rim apresenta 10% da sua função, o paciente precisa ser ligado a uma máquina de diálise que faz a filtragem do sangue. A cada ano, cerca de 20 mil brasileiros iniciam este tratamento, alguns conseguem ter uma parte do rim recuperada e passam a viver sem a necessidade da diálise. No entanto, a maioria dos pacientes fica anos dependendo da máquina enquanto aguarda por um transplante renal. O médico nefrologista e presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia, Daniel Rinaldi dos Santos, explica que o Brasil é o segundo país que mais faz transplantes renais, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. "São 5.500 transplantes de rins realizados todos os anos no país", destaca.