Num cenário de crise econômica, os deputados estaduais de São Paulo usaram um recurso milionário para cobrir as despesas de gabinete. Ao longo de 2016, gastaram quase R$ 21 milhões. A maior parte foi com a impressão de folhetos.
Milton Vieira (PRB) gastou quase R$ 9 mil por mês com cópias e impressões. ‘Sempre procurei atualizar aquilo que a gente está fazendo, porque já tem aquela fama de que não trabalhamos’, justifica.
Se na casa da gente, o ajuste nas contas é cada vez mais intenso e despesas como correio e telefone foram substituídas por aplicativos de bate-papo e email, os deputados preferiram o método tradicional – e mais caro: no ano passado as despesas com telefone e correios somaram mais de R$ 2 milhões.
Sozinho, Itamar Borges (PMDB) gastou, em média, R$ 5,2 mil por mês com telefone fixo, o que equivale a cinco salários mínimos. Mas tudo isso tá dentro da lei: é que além do salário mensal que ultrapassa R$ 25 mil, cada um dos 94 deputados de São Paulo tem direito a quase R$ 30 mil por mês de verba de gabinete.
A lista das despesas que podem ser reembolsadas pela Assembleia Legislativa é grande. Inclui moradia, já que muitos deputados voltam para o interior do estado nos finais de semana, além de combustível, passagem aérea, alimentação, aluguel de sala e de carro, serviços de consultoria e pesquisas.
Mas o problema não é a quantidade de benefícios que os deputados têm. Na avaliação do cientista político João Paulo Peixoto, a dificuldade é saber o que realmente é gasto pra manter o mandato e o que é para fins pessoais. ‘Esses privilégios são extremamente difíceis de serem fiscalizados. Ele vai viajar de avião para descansar ou atender compromissos de campanha? A linha que separa o útil ao inútil é muito frágil’.
O deputado Alencar Santana (PT) foi o que mais gastou com despesas de gabinete no ano passado: R$ 333 mil. Cerca de 20% desse total foram usados numa agência de publicidade. Em seguida, Marta Costa (PSD), com gasto de R$ 332 mil. Na era dos e-mails e das mensagens instantâneas, boa parte dessa quantia foi usada para mandar correspondências: foram aproximadamente R$ 6 mil por mês com os correios. O terceiro colocado do ranking foi Teonilio Barba (PT), que usou R$ 327 mil do benefício.
O petista Alencar Santana justificou que todos os gatos foram realizados dentro da leis e para uso exclusivo do trabalho parlamentar.
Itamar Borges (PMDB) disse que a prestação de contas é feita dentro do que é exigido pela Assembleia e afirmou que é o parlamentar que tem a base eleitoral mais distante da capital paulista. Falou ainda que mantém dois escritórios políticos e uma intensa agenda de trabalho.
Teonílio Barba (PT) disse que as despesas foram justificadas e comprovadas e estão de acordo com as normas da Assembleia Legislativa de São Paulo.
A reportagem CBN não conseguiu contato com a deputada Marta Costa, do PSD.
Fonte: G1, 23 de janeiro de 2017.