Como eu costumava sonhar...  

Quando criança, e certamente não diferentemente de vocês, eu sonhava — e muito!  

Sonhava com a minha carreira, com as coisas incríveis que faria, com as realizações absurdas que alcançaria, com minha vida toda. Eram tantas possibilidades! Eu era tão pequena, mas ainda assim tão capaz de tudo. Eu sonhava tão alto! 

Eu poderia ser uma modelo como gostaria de ser quando era criança, uma escritora como sonhava quando era adolescente ou super rica como sonhei até poucos anos atrás; até eu descobrir que não poderia. Em algum momento no meio do caminho meus sonhos foram ceifados, um por um, pelas mais diversas pessoas, e eu fui os deixando para trás. 

Quando eu cantava imitando uma cantora nas brincadeiras de criança, uma amiga disse que eu não poderia “forçar” minha voz para cantar, então presumi que nunca poderia cantar na frente dos outros porque minha voz não era boa o suficiente. Quando eu quis ser modelo alguém disse que precisaria ser mais alta. Quando eu quis ser escritora e resolvi fazer uma redação espelhada nos livros divertidos e contemporâneos da Marian Keyes, que eu costumava ler na minha adolescência, minha professora me deu nota 3 e presumi que não poderia mais escrever daquele jeito — e nunca mais escrevi com prazer até os dias de hoje. Eu sempre sonhei em morar fora, mas um dia alguém me disse que não era tão bom assim, e outro ainda classificou como a pior experiência de sua vida, então fiquei insegura com relação aos meus sonhos. Quando eu queria ir à Veneza, me diziam que a cidade fedia e, confesso, aquilo me desanimou um pouco. 

Hoje, como adulta, sei que não deveria ter deixado isso acontecer, mas como uma criança ou um adolescente pode ter essa consciência se ninguém a faz ter? Se o mundo ainda não te ensinou e se a vida não te preparou para aquilo? Mas eu não havia pensado nisto desta forma até o último mês.  

As crenças limitantes 

Durante uma de minhas últimas aulas de inglês para um grupo de adolescentes (de 13 a 14 anos), eu vi isso acontecer na minha frente e foi como um tapa na cara. Após uma das meninas contar que iria fazer uma seletiva para ser modelo, ouvi uma das outras garotas dizendo: “Não vale a pena (ser modelo), eles exigem muito de você, te fazem fazer dieta. Além disso é muito difícil, você tem que pagar por fotos, viajar, gasta muito dinheiro”. Cara, sério, mesmo se for, o que você tem a ver com isso? Porque você não pode deixar os outros viverem seus próprios sonhos? Isso me fez questionar: em que momento das nossas vidas viramos esses destruidores impetuosos de sonhos? Quando começamos a despejar nossas próprias frustrações e medos nos outros? Quando foi que começamos a achar que isso faria algum tipo de bem? Quem somos nós para dizer que o outro não pode ou não deve fazer algo para caminhar em direção aos seus sonhos? Somos nós tão preocupados assim com o próximo ou nós só estamos descarregando nossas frustrações nos outros e os impedindo de realizar os sonhos que nós não conseguimos ou conseguiremos realizar? 

Na minha vida, meus maiores aprendizados vieram de meus erros, de minhas frustrações. Não vou dizer que não sofri com eles, mas eles foram muito importantes para me conduzirem até onde estou, para criar uma consciência de quem sou e para me fazer querer aprender mais sobre mim mesma e sobre o mundo. Eu não aprendi nada não tentando, não errando. Na verdade, isso só me tornou mais ignorante. Quando recebi uma nota baixa naquela redação por tentar fazer algo diferente, me frustrei e parei de ler os livros que gostava assim como parei de escrever. Se um professor de português achava que eu, que sempre fui ótima em português, não era capaz de escrever uma boa redação usando uma linguagem coloquial, bom, então talvez eu não devesse. 

Para piorar e adicionar mais pressão aos nossos sonhos e escolhas, desde criança somos questionados com o famoso “O que você quer ser quando crescer?”, mas ainda não nos demos conta de que esta pergunta não é bonitinha, tampouco tão inocente, como todos pensam. Ela é cruel e limitante. Ela nos limita a escolher entre aquelas profissões pré-estabelecidas sem termos certeza se é realmente aquilo que queremos.  

Quem, quando criança, fala que quer ser instrutor de yoga, por exemplo? Apesar de parecer uma profissão bem legal, não há faculdade para isso, portanto, não pode ser uma profissão, não é? Nesse momento somos colocados em uma caixa e forçados a pensar em algo que nem queremos, privados de sonhar (porque ser atriz, modelo, atleta, é muito difícil, e motivo para não ser levado a sério, portanto). À medida que vamos crescendo esta pergunta só vai se tornando mais séria e preocupante e as pressões vão aumentando. Temos que escolher faculdade, emprego, e temos que saber um pouco de cada disciplina (ou muito) para passar no vestibular. Temos que aprender as respostas para “quais são suas qualidades?” ou “é bom trabalhando em grupo?”. Ah, e deixa eu adivinhar, seu maior defeito também é ser perfeccionista? E se você não for? E se você quiser criar o seu próprio espaço no mundo, um trabalho que você possa fazer com excelência usando suas peculiaridades? Qual o problema em sonhar com isso? 

É neste momento, na transição da adolescência para a vida adulta, acredito, que muito vai embora definitivamente. Somos impedidos de sonhar, de sair desta caixa, e obrigados a pensar de forma limitada. Por três anos consecutivos pensamos incansavelmente no vestibular, em como aprender todos aqueles assuntos (por vezes inúteis) naquela janela de tempo. Para quê? Passar no vestibular. Nada daquilo é aprendizado para a vida. Ninguém te ensina os princípios básicos da economia no momento mais importante, quando você está quase chegando na vida adulta e terá a chance de, pela primeira vez, lidar com seu próprio dinheiro e suas próprias despesas. Não há nenhuma disciplina sobre como ser criativo, nem que estimule sua criatividade, o que é muito irônico, num mundo onde todos te pedem justamente isso: seja criativo, arrume uma solução, pense fora da caixa. Como? Se tudo que nos foi empurrado goela abaixo foi para nos colocar cada vez mais fundo e entulhados dentro dessa caixa?  

Não deixe de sonhar 

Você vive numa mentira durante anos, limitado, oprimido. Como sonhar em meio à tantas amarras? Em certo momento eu havia até me esquecido do que era sonhar, a não ser nos momentos em que dormia, é claro. Eu não poderia ser nada além do convencional, eu era simples, ordinária, e assim eram meus sonhos. Eu me limitei a sonhar com um emprego em que eu pudesse trabalhar menos e me estressar menos, apenas isso. Eu me limitei a dizer "isto não é para mim", "eu não posso", "eu não devo", "eu não consigo". Era um mantra que ecoava, que havia sido repetido pelas mais diversas pessoas à mim durante anos, e que eu insistia em repetir. Não é que eu tenha parado de sonhar, é que eu apenas sonhava baixo, muito baixo, mais baixo do que eu era capaz de realizar. 

Em algum momento em meio à tantas frustrações, finalmente percebi que eu estava cometendo erro atrás de erro e que eu era a única pessoa que estava me limitando. Quando me tornei adulta não percebi que aquilo que me diziam não era verdade, e que, por mais que fosse, poderia ser mudado por mim mesma. Precisei de alguns bons anos para questionar e compreender o que estava havendo. Eu percebi que meu passado e os medos que me assombravam não poderiam limitar minhas ações no presente; muito menos as do futuro, me impedindo de ser quem eu quisesse ser. Eu não poderia ser reflexo do meu medo, minha insegurança e do que um dia disseram para mim.  

Alguém algum dia disse que eu não era capaz de escrever algo bom; eu estou aqui para provar que eu posso sim. Posso não ser Shakespeare, mas eu posso escrever melhor do que eu escrevia antes. Alguém me fez achar que eu não era criativa; hoje eu sou fotógrafa, uma profissão que exige o máximo de criatividade. 

É inconveniente e incômodo mudar, pensar sobre si, sobre o que gostaria de fazer melhor em sua vida e de fato fazê-lo, executar as ações necessárias. Mudar exige mudança em seus hábitos, que muitas vezes estão incrustados tão fortemente que torna ainda mais difícil esse processo. O ser humano não gosta de mudanças.  

É muito conveniente, por outro lado, simplesmente aceitar o que os outros nos dizem, e nos convencer de que aquilo é quem somos, que não podemos fazer nada a respeito, e não podemos ir além dos limites que nos foram impostos. Mas eu tenho duas coisas a dizer a respeito disso. 

1) Quem são eles para nos dizerem do que somos ou não capazes? Se conseguiremos ou não alcançar nossos sonhos? Se os nossos sonhos são bons ou não para nós?  

2) Tudo, exceto o passado, pode ser modificado. Você não é bom em algo? Por que não pode se dedicar o suficiente para aprender? É claro, há pessoas que tem “o dom”, como dizem. O Messi, por exemplo, não precisa se esforçar tanto para jogar um bom futebol. Mas por que você não pode ser como o Cristiano Ronaldo e treinar até você ser muito bom, tão bom quanto alguém que tem o dom? Por que você vai deixar suas experiências passadas e frustrações limitarem quem você é, se pode fazer algo a respeito?  

Tudo é uma questão de mindset 

Nós mesmos temos a capacidade de alterar nossos padrões disfuncionais de pensamentos. Podemos trocar um “Eu não sou criativo o bastante” por um “Onde eu estava com a cabeça quando disse isso? É claro que sou criativo!”. Quando você destrói as barreiras que havia criado em torno de si mesmo, sua vida começa a mudar para melhor e você não tem mais limites. 

Não deixe ninguém, nem mesmo você, destruir seus sonhos, ou te limitar. Não faça isso com os outros. Permita-se sonhar alto e ainda mais alto. E deixe as outras pessoas sonharem tão alto quanto elas puderem, incentive os seus sonhos. E se você não acredita naquele sonho, se tem algo negativo para compartilhar sobre aquilo, simplesmente cale-se. Nada de bom virá desta negatividade. Pense em você mesmo. Quando você sonha, prefere alguém te ajudando e incentivando a alcançar, ou pelo menos chegar o mais perto possível daquele sonho, ou alguém que te diga “isso não vai dar certo, simplesmente desista”.  

Não destrua sonhos e não permita que seus sonhos morram. Sonhe mais, faça mais. O mundo seria um lugar muito melhor se todos fossem capazes de sonhar mais e acreditar um pouco mais em si mesmos.  

E aí, quem ou o quê está te impedindo de ir atrás de seus sonhos?

Fonte: Linkedin, via Laís Schulz, 28 de junho de 2017.