O consumo de alimentos ricos em antioxidantes, selênio e ômega 3 é importante para reduzir os riscos de depressão, segundo o médico psiquiatra Michael Maes, professor e pesquisador da Deakin University, na Austrália, e da Universidade de Bangkok, na Tailândia. Em entrevista à FOLHA, ele diz que estas substâncias ajudam a fortalecer o sistema imunológico e reduzem as chances de inflamação do organismo. "A inflamação é o primeiro passo para a redução dos índices de serotonina e a instalação da depressão", aponta ele, que está em Londrina como convidado do programa de Pós-Graduação do Hospital Universitário da Universidade Estadual de Londrina (UEL). 

Há cerca de 40 anos a depressão era tratada com medicamentos antidepressivos que aumentavam os índices de serotonina - neurotransmissor responsável pelo controle do humor. A grande descoberta dos médicos foi que os medicamentos antidepressivos também são anti-inflamatórios. "Hoje sabemos que a depressão é uma doença inflamatória e que podemos usar drogas que reduzem a inflamação para tratá-la", ressalta. Segundo Maes, pesquisas mostram que até mesmo alguns antibióticos apresentam propriedades anti-inflamatórias e são eficientes no tratamento da depressão. "Há alguns anos só olhávamos a serotonina e agora sabemos que, além de nivelar este neurotransmissor, precisamos controlar a inflamação do organismo. E isso é feito com medicação e mudanças na alimentação", salienta. 

De acordo com Maes, a alimentação tem relevância no aparecimento e controle da doença, especialmente entre as pessoas que já apresentam fator genético favorável à depressão. "Dietas pobres em antioxidantes, selênio e ômega 3 deixam a pessoa mais vulnerável", destaca. Conforme ele, estes nutrientes são tão importantes que para alguns pacientes a base do tratamento é o consumo de alimentos ricos em ômega 3. O pesquisador defende que o aumento nos índices de depressão, suicídio e doenças imunológicas nos últimos anos está intimamente ligado à alimentação. "Hoje consumimos muito ômega 6, que induz à inflamação e está presente principalmente na gordura das carnes. Antigamente consumia-se mais ômega 3, que reduz as inflamações", salienta. 

O fator genético, o meio ambiente e o estresse influenciam no aparecimento da depressão. "Estresse psicológico e tabagismo induzem à inflamação do organismo. Quanto mais estresse, mais depressão. Mas há pessoas com maior resistência ao estresse do que outras; isso depende das características individuais e da personalidade de cada um", afirma. 

Apesar de tantas descobertas, Maes diz que a cura efetiva da depressão depende de fatores individuais. "Se a pessoa tem predisposição genética, se alimenta mal e não consegue controlar a influência do estresse, provavelmente terá recaídas. Cada vez que registramos reincidência da doença, mais difícil fica solucionar o problema", explica. 

"Mas a pessoa que possui o gene favorável e se preocupa em controlar a dieta, consumindo ômega 3 e alimentos antioxidantes, faz exercício, controla os níveis de estresse, não fuma e não consome bebidas alcoólicas em excesso, será menos vulnerável à depressão. Isso porque, apesar da genética, os outros fatores reduzem a incidência de inflamação no organismo", complementa.

Fonte: Folha de Londrina, 09 de junho de 2014.