O número de pessoas inadimplentes teve aumento em maio de 9,56% sobre o mesmo período de 2013, a maior variação anual já registrada no banco de dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), divulgado ontem. A variação fez com que as entidades elevassem a projeção para o crescimento da inadimplência para 7,5% no ano em relação a 2013, bem acima dos 5% da estimativa anterior. 

O cenário com pressão inflacionária e juros mais altos contribuiu para que o número de CPFs de devedores registrados no banco de dados chegasse a 55,040 milhões no mês passado, o que deve ter impacto no consumo das famílias durante o ano. Desde abril, foram incluídos 1,2 milhão de adultos nos serviços de proteção de crédito, o que representa alta de 1,38% em 30 dias. A variação mensal também foi a maior da série histórica do indicador para um mês de maio. 

O presidente da CNDL, Roque Pellizzaro Junior, afirma que o avanço se deve à atual situação econômica do País. "A inadimplência nos últimos meses tem sido influenciada principalmente pela elevação da inflação, pelo crescimento moderado da massa salarial e pela desaceleração da atividade econômica como um todo." 

Para o delegado do Conselho Regional de Economia (Corecon) em Londrina, Laercio Rodrigues de Oliveira, o grau de endividamento da população, causado pelo crédito facilitado desde 2008, também é uma das causas. "As famílias fizeram dívidas de médio e longo prazos, que mexem com o orçamento principalmente entre as de baixa renda." 

Com o aumento da inflação e dos juros, os bancos recolheram a oferta de crédito, diz o consultor da Associação Comercial do Paraná (ACP) e diretor executivo do Datacenso, Claudio Shimoyama. "Apesar da taxa de desemprego estar baixa, o consumidor ficou mais cauteloso e isso já impacta no comércio." 

Outro problema é que os próprios comerciantes ficam com o pé atrás. "O consumidor que paga em dia é prejudicado pelos que não pagam, porque a margem de lucro é modificada para evitar perdas e isso eleva preços", diz o chefe do departamento de economia da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Renato Pianowski. 

Os analistas acreditam que a tendência é de que a inadimplência se mantenha em alta durante o ano, o que tende a refletir no baixo crescimento do País em 2014. "No segundo semestre, muitas pessoas usam o adicional de férias e o 13º salário para quitar dívidas, mas trabalhamos com a previsão de que o índice fechará entre 7,5% e 8% no Paraná", diz Shimoyama. "Teremos crescimento menor do que em 2013. Mesmo quem achava que a Copa do Mundo seria a salvação já percebe que o número de turistas está menor do que o esperado", completa Pianowski. 

Para o consumidor, resta a orientação de tentar renegociar as dívidas com juros menores. "Se não conseguir com o banco, é possível usar a portabilidade para negociar com outro ou tentar o crédito consignado, que tem taxas menores", sugere Oliveira.

Fonte: Folha de Londrina, 10 de junho de 2014.