Em maio, as taxas de juros das operações de crédito praticadas pelas instituições financeiras voltaram a subir, segundo apuração da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Foram 12 elevações consecutivas, incentivadas pelas sucessivas altas da taxa básica de juros. Agora, diante do aparente fim do ciclo de altas da Selic, os juros tendem a se acomodar, influenciados também pelo momento econômico.
Em maio, a taxa de juros média para pessoa física teve elevação de 0,02 ponto percentual, passando de 5,96% em abril para 5,98%. A maior variação foi nos juros do comércio, que saiu de 4,58% para 4,62% ao mês, e do cheque especial, de 8,18% para 8,22% ao mês. Já de março de 2013 a maio deste ano, a média dos juros praticados pelo mercado cresceu acima da Selic. Para pessoa física, a média apresentou elevação de 12,79 pontos percentuais - contra 3,75 pontos de elevação da taxa básica de juros -, alcançando 100,76% ao ano.
Nas operações de crédito para pessoa jurídica houve elevação de 5,96 pontos percentuais no mesmo período, chegando a 49,54% ao ano. A Anefac pesquisou seis linhas de crédito para pessoa física (juros do comércio, cheque especial, CDC bancos-financiamentos de automóveis, empréstimo pessoal-bancos e empréstimo pessoal-financeira e cartão de crédito rotativo) e três para pessoa jurídica (capital de giro, desconto de duplicatas e conta garantida).
O diretor executivo de Estudos Econômicos da entidade, Miguel Ribeiro de Oliveira, ressalta que a Selic é apenas um dos itens que compõem as taxas das operações de crédito. Elas também são influenciadas pelo desaquecimento da economia e pela inflação, que diminuem o poder de compra das famílias e, consequentemente, aumentam o risco de crédito. Para Oliveira, o momento é de estabilidade.
"A Selic não deve subir nos próximos meses, portanto, as taxas devem ficar estáveis; a não ser que os juros maiores afetem a renda do consumidor e aumente a inadimplência, aí, inevitavelmente, teremos altas nos juros", pondera. Segundo Oliveira, as taxas para pessoas físicas são mais elevadas em virtude do maior risco de inadimplência.
Desaquecimento
João Basílio Pereima Neto, chefe do departamento de economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), diz que os juros praticados pelas instituições devem ficar estáveis não apenas pelo fim do ciclo de altas da Selic, mas pela própria queda na atividade econômica brasileira. "A gente está em um momento de impacto negativo da demanda; o endividamento das famílias já está elevado e se os bancos quiserem continuar operando em quantidade terão que manter as taxas", afirma.
Pereima Neto diz que a Análise Mensal publicada pelo Departamento de Economia da UFPR mostra retração da atividade econômica ainda pelos próximos seis meses, com recuperação do ritmo de crescimento somente após esse período. "Não é um ambiente propício para aumento das taxas de juros", finaliza.
Fonte: Folha de Londrina, 10 de junho de 2014.