Segundo dados da ONU, atualmente há mais de 1,1 bilhão de pessoas com 60 anos ou mais no mundo, e esse número deve dobrar até 2050. Nunca houve tantos idosos na história da humanidade — e nunca foi tão urgente repensarmos como queremos envelhecer e como tratamos quem chegou lá antes de nós. Se estamos vivendo cada vez mais — e é verdade, vivemos mais do que nunca — por que ainda entendemos que envelhecer é algo que deve ser escondido ou ignorado? O futuro é violeta porque é um futuro que reconhece a beleza da experiência, da longevidade e da contribuição dos mais velhos.

Vivemos numa sociedade que hipervaloriza o jovem põe os mais velhos no baú do esquecimento — como se otimismo e perspectiva fossem sinônimos de juventude. Mas uma sociedade que respeita e valoriza seus mais velhos é uma sociedade mais justa, mais estável e, sobretudo, mais feliz. É também mais inovadora, pois tem raízes que sustentam suas transformações.

Se envelhecer pode ser uma fase de florescimento, então por que o mercado de trabalho nem sempre reflete esse potencial? Nunca houve tantas pessoas com mais de 60 anos ativas, experientes e cheias de potência. Mais do que isso, é preciso entender que existe a necessidade de tornar essas pessoas úteis, valorizadas e bem remuneradas dentro do mercado de trabalho. Não podemos replicar o descarte que fazemos com roupas e produtos com nossos guardiões de experiências e conhecimentos. Afinal, organizações que não promovem a integração geracional limitam seu próprio crescimento.

Para que o envelhecer seja também florescer, é essencial criar ambientes onde diferentes gerações possam conviver, dialogar e se fortalecer mutuamente. A troca entre mais jovens e mais velhos — seja em projetos, mentorias, escutas ou simples conversas — não apenas valoriza o conhecimento acumulado, como também renova o olhar para o futuro. Práticas como rodas de conversa sobre propósito e oficinas de bem-estar emocional ajudam a reforçar vínculos e a prevenir o isolamento. E quando empresas oferecem canais de escuta anônima, apoiam oficinas de prevenção de golpes ou incentivam o voluntariado com idosos, estão, de fato, promovendo cuidado, pertencimento e inclusão.

Além disso, ações educativas voltadas à prevenção de violência financeira e psicológica — como oficinas para identificação de golpes e fortalecimento de limites emocionais — podem ser acompanhadas por canais de escuta anônima em parceria com serviços públicos. As empresas podem deixar evidente seu papel social abraçando campanhas como o Junho Violeta, promovendo encontros com idosos que superaram situações de violência ou estimulando o voluntariado em projetos de inclusão digital.

Tudo isso parte de um princípio fundamental: prevenir pela felicidade. Um idoso que se sente útil, ouvido e integrado tem menos risco de sofrer violência. Empresas que, de forma legítima, se engajam nesse tipo de causa colhem resultados tais como: maior coesão interna, reputação positiva, compromisso ESG e um ambiente mais humano.

Claro, há desafios. É preciso adaptar a linguagem, privilegiar o contato humano, criar espaços afetivos. Mas o retorno é imenso: construímos pontes entre gerações, promovemos segurança emocional e plantamos as sementes de uma cultura mais empática.

Feliz não é quem envelhece sem rugas, mas quem envelhece sem medo. O futuro é violeta porque envelhecer com dignidade é um direito humano universal — e só floresce quando a sabedoria é acolhida, respeitada e compartilhada.

Rodrigo de Aquino é comunicólogo e executivo na área do bem-estar, felicidade e entretenimento com impacto social. É embaixador em São Paulo da ONG Doe Sentimentos Positivos, Climate Reality Leadership Corp 22 e fundador do Instituto DignaMente.

DM TEM DEBATE

https://www.dmtemdebate.com.br/envelhecer-bem-tambem-e-um-assunto-de-trabalho/