A taxa de juros para consumo familiar aumentou 0,2 ponto percentual (p.p.) em julho ante junho, quando fechou em 43,2% ao ano, conforme o boletim de Política Monetária e Operações de Crédito do Sistema Financeiro divulgado ontem pelo Banco Central (BC). Ainda que o órgão tenha mantido o indicador base, a Selic, em 11% desde abril, as financeiras têm elevado os custos de empréstimos livres para recuperação de margens e pela expectativa de aumento futuro da inadimplência, dizem analistas. 

O índice é o maior desde o início da série histórica do BC, em março de 2011. Para empresas, houve alta de 0,5 p.p. nos juros, que ficaram em 23,1% ao ano em julho. Os dados, assim como no crédito para consumo familiar, referem-se a recursos livres, sobre os quais os bancos têm autonomia para aplicar o dinheiro captado no mercado e para definir as taxas cobradas. 

O índice de pessoas com dívidas em atraso por mais de 90 dias teve elevação de 0,1 p.p. tanto para empresas (3,5%) quanto para famílias (6,6%). Outro dado relacionado é a menor expansão das operações de crédito, cujo saldo foi de R$ 2,835 trilhões. A taxa de crescimento nos últimos 12 meses caiu de 11,8% em junho para 11,4% em julho. O avanço do crédito foi de 14,7% em 2013 e a previsão do BC para 2014 é de 12,0%. 

O diretor executivo de estudos financeiros da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira, afirma que a alta dos juros, apesar da estabilidade da Selic, está relacionada à expectativa de elevação da inadimplência. "Os bancos emprestam dinheiro olhando o presente e o futuro." 

A inflação alta, que diminui o poder de compra do trabalhador, diminuiu o consumo e prejudicou o setor produtivo. "Temos um quadro no qual o consumidor está mais apertado e no qual começa a aparecer desemprego em alguns segmentos", diz Oliveira. Assim, a incerteza sobre a reversão dessa desaceleração econômica gera cautela, tanto na decisão da população em consumir quanto dos bancos para ofertar crédito. 

O economista chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Nicola Tingas, acredita que o desaquecimento no primeiro semestre gera uma rolagem de dívidas por parte do consumidor para o orçamento dos meses seguintes, o que reduz o reflexo nos cadastros de devedores. "O momento é voltado para uma transição e é preciso fazer o gerenciamento do fluxo de caixa, principalmente o pequeno e o médio empresários. E a pessoa física também tem esse problema." 

Para o economista Flavio Calife, do Boa Vista SPC (Serviço de Proteção ao Crédito), entretanto, o fantasma da inadimplência assusta menos do que em outros anos. Ele cita que houve uma alta expressiva das pessoas com dívidas atrasadas em 2011 e 2012, seguida de grande queda em 2013. Neste ano, afirma que o indicador de julho continua abaixo do registrado em dezembro do ano passado. "Passamos por um período de crescimento da demanda por crédito, com aumento e posterior redução da inadimplência, mas é importante lembrar que isso gerou um aprendizado no mercado." 

Calife considera que a alta dos juros é mais um ajuste para recuperação de margem de lucro das financeiras do que temor sobre a inadimplência. "Há um problema muito maior de falta de demanda por crédito por parte do consumidor do que dificuldade em conseguir empréstimo nos bancos."

Fonte: Folha de Londrina, 27 de agosto de 2014.