Ainda há um longo caminho a ser percorrido, mas a sociedade moderna começou a entender a importância da inclusão das pessoas com deficiência em todos os aspectos: social, profissional, acadêmico e de mobilidade urbana. Calçadas táteis, banheiros e transporte público adaptados, rampas, elevadores e outros recursos permitem o acesso de todos a faculdades e cursos diversos e, consequentemente, à capacitação e formação profissional. No entanto, essas pessoas ainda encontram dificuldade para conquistar uma vaga no mercado de de trabalho. Pesquisa realizada entre profissionais de Recursos Humanos (RH) de todo o Brasil indicou que dos 2.949 recrutadores entrevistados, 93% ainda têm dificuldade em entrevistar ou gerenciar uma pessoa que declara algum tipo de deficiência.
A pesquisa, feita pela Catho juntamente com a empresa iSocial – que tem um banco de currículos somente de pessoas portadoras de deficiência para proporcionar a inclusão desses profissionais – constatou ainda que 82% dos profissionais de RH entrevistados acreditam que é mais difícil encontrar pessoas qualificadas portadoras de deficiência. E quando há capacitação, outra barreira é a acessibilidade da empresa. Quase 50% acreditam que a empresa em que trabalham não possui estrutura física para receber esses funcionários, segundo a mesma pesquisa.
Por conta de todos esse "obstáculos", o CEO da iSocial, Jaques Haber, explica que "muitas empresas acabam criando vagas sem representatividade e sem muitas responsabilidades, ou mesmo oferecendo vagas menores a pessoas que poderiam ocupar um cargo mais alto, somente para obedecer a lei de cotas". A lei, criada em 1991, que visa a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, estabeleceu um percentual mínimo de trabalhadores com deficiência em empresas a partir de 100 funcionários. "Essa é a principal reclamação dos profissionais portadores de deficiência capacitados. A empresa foca no cumprimento da cota, e não na qualificação do funcionário no momento da contratação."
Haber afirma ainda que quando a pessoa, mesmo capacitada para outro cargo, acaba aceitando uma função "menor" com objetivo de crescer dentro da empresa, ela acaba esquecida. "É um profissional que vê pessoas com menos capacitação, que foram contratados bem depois dele, crescerem, e ele fica estagnado. Por isso os gestores precisam aprender a lidar com essas pessoas, a ver o portador de deficiência como um funcionário normal, e não com ‘necessidades especiais’, como se ele não fosse capaz de cumprir suas tarefas", defende.
Foi para desmistificar esse ponto que a Catho decidiu fazer a pesquisa, salienta o responsável por pesquisa e estratégia da empresa, Luís Testa. "Muitos portadores de deficiência não querem nem mais esse tratamento: ‘portadores de necessidades especiais’. Eles afirmam que não possuem necessidades especiais, eles apenas portam uma deficiência. Mas são capazes, estão buscando capacitação. Precisam de oportunidade." Ele acrescenta que a empresa que inclui esses funcionários se torna mais competitiva. "A empresa acaba descobrindo um mercado, que é consumidor, e pode adaptar seu produto, ou serviço para todos. A empresa cresce e se destaca."
Fonte: Folha de Londrina, 08 de setembro de 2014.